Era brincadeira- um gracejo cruel a que Ian normalmente reagiria com uma gargalhad. Até riria nesse momento, se não receasse sufocar.
-Não!
-Não? -então sua expressão mudou, tornando-se astuciosa e calculada. - você a conhece?
Droga. Era isso que acontecia por ele falar sem pensar. Ir além do que pretendia e ainda arrastava Nina com ele.
-Sei quem é- replicou ele num tom propositadamente casual. - conheço-a de trocar algumas palavras, pois frequentamos o mesmos círculos.
- Então por que hesitou?
-Ela acaba de sair do luto pela morte do marido. Não seria correto.
As meias verdades saíram facilmente de sua boca, e ele ficou satisfeito. Gilbert sempre fota bom para ele quando era mais novo, mas o velho irlandês não hesitaria em usar Nina para forçar Ian a fazer o que ele queria. Poderia até pensar duas vezes antes de a machucar, mas o faria, se isso significasse a diferença entre conseguir o que queria ou não.
E pensar que Ian costumava admirar isso nele.
Gilbert deu de ombros.
- Isso apenas quer dizer que ainda está vulnerável. é um pombo pedindo para cair no saco.
Ouvir falar de Nina assim o fez ferver o sangue. Ele não podia discutir com ele e nem defendê-la, porque Gilbert perceberia que ele havia mentido ao dizer que não a conhecia.
Ele já insinuara que o mandante do serviço era um homem rico. Se ele pertencesse á alta sociedade, poderia ter passado a Gilbert informações, inclusive que vira Nina e ele juntos.
Roubar Nina. Santo Deus! Gilbert não podia ter escolhido outra pessoa? Faria tal serviço num minuto, se não se tratasse de Nina, e por uma única razão - para proteger sua família. Agora parecia que ele ia ter que trair Nina e o recente relacionamento entre eles. Não tinha escolha. Se procurasse as autoridades, sua família, e talvez Nina, iriam sofrer. Se matasse Gilbert, sua família sofreria.
Se ele roubasse a tiara de Nina, só ela sofreria. Não, não apenas ela. Ele também, mas não merecia menos que isso.
Caminhou até o aparador de carvalho e abriu uma garrafa de uísque. Não se preocupou em oferecer nada ao irlandês enquanto se servia.
- Você tem um desenho da tiara?
Não havia como voltar atrás agora.
Gilbert sorriu com uma expressão já não mais ameaçadora.
- Sabia que ia mudar de ideia.
Mudar de ideia nada tinha a ver com o assunto. Gibert o tinha nas mãos e sabia disso.
- Bem, você sabe como ela é? - Bebeu um gole de uísque. Ele queimava e tinha um gosto amargo.
O irlandês tirou o papel dobrado do bolso interno do paletó.
- Aqui está.
Ian pegou o papel, e o amargor em sua boca se intensificou. Ele devia saber que não se livraria de seu passado, como devia saber que tinha de pagar pelo que fizera.
Ao olhar para o desenho, assaltou-o novamente uma vontade imensa de rir. A tiara era exatamente a que Nina usara aquela noite- a mesma que o fizera pensar nela como uma rainha. Que preço apropriado era aquele.
- Não seria tão difícil para alguém charmoso como você arranjar, com uma conversa açucarada, um jeito de entrar na vida da tal senhora.
Dessa vez Ian riu - um riso amargo, áspero. Realmente, bem ao seu gosto. Um pouco de diversão. Não podia ser real. Havia muita ironia naquilo tudo, devia ser um sonho.
- Não. - disse em concordância, com os lábios curvando-se num sorriso malicioso. - absolutamente não será difícil.
Ia ser um inferno.
Oi gente, trouxe mais um capítulo de "O ladrão de um amor" e espero mesmo que vocês gostem.